VIII Seminário Coletivo Rosa Parks

Dia 14 de novembro de 2023, 9 horas, no auditório da Biblioteca Central, aconteceu o

VIII Seminário Coletivo Rosa Parks: Mulheres Negras e Liderança.

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Poesia lida na abertura do VIII Seminário Coletivo Rosa Parks: Mulheres Negras e Liderança.

POESIA PARA O EVENTO DO COLETIVO ROSA PARKS
Autoria: Jéssica Maria de Lima Rocha, em 13/11/2023
Declamação: Nayara de Lourdes Ferreira Barbosa


“Me impedem de ver o sol
e ele pra mim dá o Norte para a estrada
rumo a minha casa
no berço do mundo onde me roubaram até a língua
mas não esqueci de falar
falo em poesia negra.”
[Janaína Bezerra, 2022]

A poesia negra que Janaína expressa é feita ciência no amarrar das tranças do cabelos de
minha avó. há quem diga que a construção de uma poesia é feita no combinar de versos. por
aqui, nesse andar/pensar, a gente faz verso combinando com as cicatrizes nas mãos de nossas
mães.
Dedicar escrita a mulheres negras que lideram o compromisso com um pertencimento
resgatado é potencializar eixos de essências fragmentadas e rejuntadas diversas vezes sem
perder nada de si e ao mesmo tempo perdendo muito.
No sertão tem um ditado que diz: só se deve pegar na rodia, se puder com o peso do pote.
Estamos aqui com a difícil missão de poetizar as diversas formas de acesso que confluências
como essas causam em nossa identidade.
Tal qual quina de parede na casa de gente simples, que serve para bicar o pé, somos
discípulas de um movimento transgressor que acelera quem hiberna e levanta quem tá caída,
junta os nóis que são nós e desata fazendo corda, roda que aproxima, que encaixa e vai
abarcando a pequenez que em cada uma de nós se faz gigante.
A ordem é desobedecer
Assim alumia minha vista
como a lamparina que vigia
gira a gira do anoitecer
o santo que não conheço,
não rezo nem ofereço
e pras deusas qu’eu agradeço
não estou só, vou enegrecer
Nossos passos vêm de longe
Temos nome e sobrenome
O que não aceito, vou mudando
Porque a ordem é subverter!
Corpo, voz, pés e cheiro
encantar os encantados
Vaso sagrado, espelho
liderar a luta é ato
emancipar os terreiros
Onde negras sementes resistem
O certo não deve causar medo
No varal de um tempo novo
toda a estrutura é um torvo
Eu sou rio e nele me enveredo
A ordem é desobedecer!
Obedeço a quem pertenço
não pessoa, nem adereço
é da terra que tenho apreço
a quem por ela faço avesso
Do fundo de sua garganta
a missão de todo dia
grito que tudo anuncia
a luz da primeira hora
brados, solo, heresia
não sem ela de dia
atravessar outras que contêm
Parks, se fez Rosa do cerrado
um coletivo, um povoado
na pesquisa, na catira e no xaxado
minhas irmãs são o que de mais bonito tem.
se fez cosmo ao confluir
O norte que virou sul
(re) existir e confundir
a cor mais quente é o azul
Estou com todas elas
que já passaram por mim
Que ainda estão aqui.
Que me fizeram vir
Que doaram parte de si
por mim,
por quem me geraria.
eu tenho em mim mais de muitos
Eu tenho elas por mim.
A ordem é desobedecer!